terça-feira, 19 de junho de 2012

O Teatro do Possível ou do Conveniente?




O líder nacional do PSB e presidenciável Eduardo Campos vai dar um passo estratégico, nesta quarta-feira (20), implicitamente projetado para 2014, que margeia a linha divisória - na qual vem mantendo-se como um frio equilibrista - entre a preservação do atual status de aliança político-pessoal com o ex-presidente Lula e o PT e a sua margem oposta. Se optar pelo deslocamento, assim sendo entendido, vai passar a ser enfrentado pelo PT. Em política, não existe transição com neutralidade.


A questão que se põe é: terá, Eduardo, força para dizer “não” a Lula? Saberá, Lula, entender um “não” de Eduardo como uma posição episódica e local, sem qualquer pretensão de projeção (ou descolamento) - no xadrez político - com vistas a 2014? Lançar uma candidatura própria do PSB à Prefeitura do Recife, contra o senador do PT Humberto Costa - que o próprio Eduardo ajudou a eleger - e indicado por Lula, será uma jogada de alto risco.


A candidatura própria do PSB, caso concretize-se, será de difícil assimilação pelos caciques nacionais do Partido dos Trabalhadores. As barbas vão ficar de molho. O “Projeto Eduardo” fatalmente passará a ser visto como antagônico ao do PT, que hoje é o da reeleição da presidente Dilma. No campo da província, como os petistas vão entender que Humberto, o primeiro a anunciar o apoio a Eduardo, em 2006, para o segundo turno, agora terá de concorrer com o candidato do PSB?


É “óbvio ululante” que, em política, gratidão e lealdade entre partidos são inversamente opostos à natural disputa pelo poder. Servem apenas como argumentos de cobrança, não se coadunam com o exercício da política e do poder. Vide a guerra entre “companheiros” no PT de Pernambuco e do Recife nos últimos quatro anos, e que ainda não teve o desfecho definitivo.


A Lula, Eduardo é grato pela viabilização dos grandes investimentos que estão mudando o perfil econômico e mudará o PIB do Estado nas próximas décadas; a Eduardo, Lula é grato pela fidelidade e lealdade que manteve em duas gestões, posição que o PSB adotou. Assim sendo, Eduardo está pronto para dizer “não” a Lula? E Lula, está pronto para ouvir “não” de Eduardo? Será que o gesto inicial do governador, ao exonerar quatro secretários de Estado e os colocar com alternativa na Frente Popular, tem uma conotação mais ampla? Ou, será que - numa interpretação provinciana - o gesto foi apenas tático, retirando o conflito interno petista da pauta principal da mídia, de modo a consolidar a opção da Executiva nacional do PT por Humberto?


É sabido que Eduardo tem, até agora, habilmente, conforme a estratégia adequada para a construção nacional do seu nome, sustentado-se em duas pernas de equilibrista: de um lado, uma aliança e alinhamento com o PT, que chega a um compromisso fraternal com o ex-presidente Lula; de outro, acenos e um trânsito com desenvoltura no campo do PSDB, estimulado pelos amigos Sérgio Guerra (presidente do partido) e Aécio Neves, senador, ex-governador de Minas Gerais e também presidenciável.


O lançamento de uma candidatura própria do PSB, no Recife, será uma aposta alta. Eduardo correrá o risco de quebrar uma das pernas, pondo em risco o seu projeto nacional. Pelo menos com o PT ao lado. Não vai ser fácil convencer Lula e o PT de que é necessário ter um candidato do PSB, depois que o PT nacional interveio e impôs o nome do senador Humberto Costa. Eduardo correrá o risco de atiçar a suspeita de que o rompimento é tático, dentro de uma estratégia para um vôo maior.


Blog do Jamido Melo