Clínico Geral, Adson Cordeiro, 35 anos, reclama das condições de trabalho e da precariedade do sistema
A importação de médicos estrangeiros ganhou as ruas com força desde a última semana, e a polêmica se instalou entre a categoria e a população. Hoje, mostramos o que desmotiva o profissional a trabalhar no Interior do Estado. As discussões que vêm se desenrolando sobre a situação da falta de médicos no Brasil e a contratação de profissionais estrangeiros foi acirrada depois que a presidenta Dilma Rousseff se pronunciou, oficialmente, sobre a importação imediata de milhares de profissionais de saúde vindos de outras nações. A estratégia servirá para suprir áreas em que o Governo Federal, prefeituras e estados identificam falta de médicos, mas prioritariamente lugares na periferia e interiores.
Rapidamente, o anúncio inflamou sindicatos e conselhos pelo País que iniciaram mobilizações contrárias à medida. Essas associações condenam a iniciativa e colocam em dúvida a segurança da saúde dos brasileiros. Para estas entidades a questão da saúde não é apenas de mão-de-obra. É estrutural, é gerencial. E não se resolveria somente com o reforço de profissionais, mas de readequação do Sistema Único de Saúde (SUS).
Um quadro se repete em todo o País: a concentração de médicos nas capitais, deixando os interiores descobertos. Em Pernambuco, a situação não é diferente. Dos 13.994 profissionais ativos e inscritos no Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), 69,33% exercem a medicina no Recife, que abriga cerca de 1,5 milhão da população do território.
O problema é que os outros 7,4 milhões de pernambucanos que moram no Litoral, nas zonas da Mata, Agreste e Sertão, além da Região Metropolitana contam com apenas 30,69%. A razão de médico por habitante que na Capital é de 6,27 por mil habitantes, cai para 0,58 em grande parte dos municípios do Interior. Enquanto o Recife está entre as nove capitais do Brasil que têm mais de cinco médicos por grupo de mil moradores, razão acima da média de países ricos da União Europeia, o resto do nosso território amarga índices semelhantes a países africanos.
Se o discurso do Governo Federal é de que o médico nacional evita o trabalho nas periferias e Interiores, a resposta é bem diferente quando se ouve os profissionais ativos. Para eles, o problema não é a falta de médicos e, sim, a má distribuição. Essa irregularidade no território pernambucano tem diversas justificativas. As principais barreiras são a falta de estrutura de hospitais, salários, e cidades que não oferecem atrativos para que o médico se fixe com as famílias.
A maior preocupação dos profissionais é ser culpado por um erro do sistema de saúde deficiente. “A gente vai para o Interior, e é pior. O médico tem medo de perder o CRM (registro profissional) por questões banais”, indica o clínico geral Adson Cordeiro, 35 anos. Ele também não poupa críticas ao sistema de saúde nacional. “O problema é que está tudo errado, desde o Posto de Saúde da Família (PSF). Qualquer coisa errada, até mesmo um pré-natal vai parar no hospital”, reclama, apontando o volume de pacientes à espera de atendimento.
Informações daFolha de Pernambuco