sábado, 27 de abril de 2013

Esquistossomose: Timbaúba também está entre as cidades com o maior número de comunidades atingidas, estudo aponta áreas críticas da doença

A sina de pessoas expostas à falta de saneamento e, por consequência, à esquistossomose, é cruel quando não se consegue vencer efeitos do verme no organismo. Nas cidades em que o Programa de Enfrentamento das Doenças Negligenciadas da Secretaria Estadual de Saúde encontrou elevada transmissão e precária cobertura de água tratada e rede de esgoto, muitos são os sequelados. Chamam a atenção crianças e adolescentes com doença grave, um indicador da atualidade do problema.

Rio Capibaribe Mirim, próximo ao Matadouro Público, Timbaúba
Os irmãos Maria do Bom Despacho da Silva, 46 anos, e José Severino, 60, desde a infância sempre tomaram banho de rio. Os preferidos eram o Tracunhaém e o Ribeiro, que passavam perto da casa deles, na zona rural de Aliança, município da Mata Norte, a 90 quilômetros do Recife. O que os dois não sabiam é que esse hábito tão aparentemente inofensivo e prazeroso iria mudar o rumo da vida deles quando a maturidade surgisse. Aos 42 anos, ela ficou paralítica e ele, a partir de 2012, passou a sofrer com hemorragias digestivas. Cada um tem um tipo de manifestação da esquistossomose, a doença negligenciada por décadas pelas políticas de saneamento e saúde.

Em Timbaúba, município vizinho de Aliança, também na zona canavieira, uma das vítimas da paralisia tem apenas 17 anos. O estudante Edvan Silva, morador do Centro da cidade, provavelmente foi infectado ao dar banho no cavalo de estimação, no Rio Capibaribe Mirim, que corta o município e é considerado outra fonte-d’água contaminada. “Ele adoeceu aos 14 anos. 

Começou com uma dor na coluna numa sexta-feira e não conseguiu se levantar mais no domingo. Tinha perdido as forças das pernas”, conta a dona de casa Maria Cláudia da Silva, mãe do garoto. Edvan passou 30 dias internado no setor de Neuropediatria do Hospital da Restauração, no Recife, que diagnosticou a doença. Passou um ano em cadeira de rodas e vem recuperando gradativamente os movimentos, após tratamento medicamentoso e fisioterapia. “É muito ruim ficar assim”, diz o estudante, com lágrimas nos olhos. A doença atrapalhou os estudos e o seu principal lazer, que é andar a cavalo. A fisioterapia deixou de ser intensiva por causa da dificuldade de deslocamento ao Recife.
Rio Capibaribe Mirim, Timbaúba
Mortes - Por ano, em Pernambuco, morrem mais de 200 pessoas vítimas da esquistossomose. Nesse número, não estão incluídas aquelas em que a doença é considerada causa secundária. Essa frequência é a mais alta do País, pois aqui se registra um terço de todos os óbitos brasileiros causados pelo xistossomo.
Uma das últimas vítimas foi Antônio Seabra da Paixão, 65 anos, natural de Timbaúba, área de transmissão permanente.

Ele faleceu no dia 15 de março último, com hemorragia digestiva e choque hemorrágico, na UPA de São Lourenço da Mata, cidade onde residia. Foi vítima da doença e da assistência fragilizada da rede SUS, em que pacientes graves não conseguem transferência imediata para hospitais especializados nem são devidamente monitorados em ambulatórios de referência.

Antônio tomou banho de rio na juventude e só há três anos, num primeiro episódio de hemorragia digestiva, havia descoberto a esquistossomose. Na época, após atendimento emergencial no Hospital da Restauração, passou três meses recebendo tratamento no Hospital Oswaldo Cruz, mas de lá recebeu alta e não vinha tendo mais nenhum acompanhamento.

As cinco localidades com maior proporção de pessoas infestadas pelos vermes estão em São Benedito do Sul, Escada (Mata Sul), Ipojuca (Região Metropolitana) e Vicência (Mata Norte). Aliança, Timbaúba (Mata Norte), Bom Conselho (Agreste) e Ipojuca também são as cidades com o maior número de comunidades atingidas.


Trecho da matéria publicada pelo Jornal do Commercio
Texto: Verônica Almeida 
 Fotos: Bobby Fabisak