terça-feira, 6 de novembro de 2012

Na terra de Lula, gado morre e água de beber só pagando

Primo de Lula
Em Caetés, a terra do ex-presidente Lula, distante 252 km do Recife, água é artigo de luxo. Só se vê pelas torneiras uma vez ao mês – e olhe lá. Carros-pipas percorrem rua por rua da cidade levando uma água imprópria para o consumo humano. Água de beber? Só quem tem dinheiro para pagar R$ 12 por um tambor de 50 litros, como o aposentado Gilberto Ferreira, primo de Lula, morador da Rua José Severino, 94, no centro.

“Olha ali o gado dele morto. Tem dia aqui que a gente não aguenta a catinga”, reclama Maria. Na casa dela, encontrei uma foto do seu sobrinho ao lado do ex-presidente Lula, orgulho da família. Mas encontrei, também, as torneiras sem uma gota de água. “Água? Isso aqui só aparece uma vez por mês”, diz ela.

          O drama gerado pela seca na terra de Lula é visto a olho nu, em qualquer parte da cidade. Nas ruas, tonéis enfeitam as casas à espera do líquido. Nos restaurantes e bares, os comerciantes compram água aos pipeiros para não provocar constrangimento à freguesia, que muitas vezes não tem nem como lavar as mãos. Manoel Aleluia Firmo de Souza, 14 anos, não sabe o que é banho de chuveiro há muitos anos.


“Tomo banho de cuia, mas é como se tivesse tomando banho no mar de tão salgada que é a água”, desabafa Aleluia. Parente do pecuarista Jonas Araújo, Carlos de Josias contabiliza prejuízos da ordem de R$ 25 mil pela perda de 14 reses, mortas de fome. No acesso ao curral de gado da propriedade que também gerencia presenciamos a cena de uma vaca agonizando, quase morta. 

Esta não leva mais dois dias. É uma pena, porque era uma vaca tão leiteira”, lamenta Aleluia, que anda preocupado agora com outro problema sério na fazenda: a morte de bezerros, provocada por cães vadios que rodeiam a propriedade. “Só em 15 dias, perdemos cinco bezerros”, disse, apontando para um animal morto dentro no curral e que fora abatido na noite de ontem por cachorros.

Se a seca dizima, por outro lado há quem tire dela o seu sustento em Caetés, como o agricultor Edilson Silvério da Silva, 45 anos, que usa dois tonéis grandes em cima de uma carroça puxada por um burro para vender água tirada de um açude público no centro da cidade ao preço de R$ 10. “A viagem é R$ 10”, diz Edilson, referindo-se à distância que separa a fonte de água ao local onde entrega o produto.
  
PRIMO DE LULA ACHA DILMA MELHOR
No centro de Caetés, Lula só tem um parente. É o Gilberto, referência no início deste texto. Os demais estão espalhados pelos sítios nos arredores, especialmente em Lajes e Vargem Comprida, onde o ex-presidente nasceu e de lá partiu, menino imberbe, para ganhar a vida em São Paulo, tangido por uma grande seca nos anos 40.
Gilberto tem traços que lembram o ex-presidente, com quem conviveu muito pouco na infância, a começar pela barba branca e rala. O primo pobre diz depois que Lula foi eleito só esteve com ele em duas oportunidades, ambas em Caetés, após solenidades oficiais.



Informações e fotos do blog de Magno Martins