domingo, 6 de outubro de 2013

Catadores de lixo assumem papel de protagonistas da coleta seletiva

Com o fim dos lixões programados para agosto de 2014, esses trabalhadores devem buscar capacitação para manusear todos os tipos de resíduos recicláveis

Pelas mãos dos catadores passam hoje 90% de todo o material reciclado no Brasil. Foto: Carlos Santos/DN/D.A.Press
Pelas mãos dos catadores
 passam hoje 90% de todo o material reciclado no Brasil

Eles não são mais invisíveis. Os 800 mil catadores de material reciclável espalhados pelo Brasil são os protagonistas da nova política de resíduos sólidos.
Com o fim dos lixões, programado pela nova lei (nº 12.305/10) para agosto de 2014, estes trabalhadores ganham o papel de ator principal da coleta seletiva. Pelas suas mãos passam hoje 90% de todo o material reciclado no Brasil. Para conquistar este espaço, os catadores terão que aumentar a escolaridade, qualificar-se e buscar capacitação para manusear todos os tipos de resíduos recicláveis.  
Edileuza da Silva Trajano trocou a carroça pelo trabalho de separação de material reciclável na central de resíduos. Foto: Roberto Ramos/DP/D.A Press
Edileuza da Silva Trajano trocou a carroça pelo trabalho de separação
de material reciclável na central de resíduos
Edileuza da Silva Trajano, 36 anos, estudou até a quarta série. Com 14 anos, começou a puxar carroça nas ruas do Centro do Recife. A companheira de labuta era a irmã mais velha. Depois casou com um carroceiro e continuou no ramo, ajudando o marido na separação do material reciclável. Hoje, ela é cooperada da Coopagres (Cooperativa de Agentes de Gestão de Resíduos Sólidos) e trabalha na Central de Resíduos Sólidos do RioMar Shopping. 

“Estou na cooperativa há dois anos. Comecei a me preparar para a reciclagem e a minha vida mudou. Sou catadora de material reciclável, e não de lixo. Hoje em dia, o catador é tratado como gente. Antes as pessoas olhavam para a gente como bicho”, desabafa Edileuza. Com renda familiar de R$ 1 mil por mês, ela trabalha dois dias por semana, e pretende continuar na profissão. Só reclama da falta da aposentadoria, porque não paga o INSS.

Apenas 10% dos catadores estão organizados em cooperativas e associações. Segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a maioria trabalha por conta própria, em condições precárias, e não tem a proteção da Previdência Social. Tira o sustento das ruas e dos lixões. São os catadores que ficam nas mãos dos atravessadores e deposeiros (donos de depósitos de material reciclável). Estes trabalhadores se submetem ao preço do intermediário, que vende as embalagens recicláveis direto às indústrias. 

Robson Alves dos Santos, 52 anos, conhece a dureza de empurrar a carroça todos os dias. Debaixo de sol e da chuva, ele conta que tira R$ 200 por mês, quando o movimento é bom. Depende da boa vontade das pessoas que guardam o material reciclável em casa  e entregam ao catador. Antes, ele trabalhou 33 anos no lixão da Muribeca e no aterro da Alpargatas, em Prazeres. Viveu parte da vida dentro do lixo.

Com a desativação do lixão da Muribeca, Robson voltou para a rua e mobiliza outros catadores para criar uma cooperativa no bairro Brejo e de Beberibe. Os documentos estão prontos. Falta o terreno para construir o galpão e a doação de uma prensa. “Com a nova lei vai melhorar para a gente, porque a quantidade de material vai ser maior a gente vai ter mais dinheiro”, se anima.

Para se adequar à nova política de resíduos sólidos, os catadores terão que se qualificar. Em Pernambuco, a Secretaria de Trabalho, Qualificação e Emprendedorismo (STQE), encomendou um estudo de diagnóstico da atividade dos catadores em 33 municípios da Região Metropolitana de Recife (RMR) e da Zona da Mata. 

O objetivo é identificar o perfil dessas pessoas e iniciar os cursos de capacitação. De acordo com Paulino Albuquerque, gerente geral de Empreendedorismo e Economia Solidária da STQE, a idéia é melhorar o nível de escolaridade e capacitar os catadores em reciclagem e manutenção de equipamentos para inseri-los na logística reversa.


Raio X dos catadores de material reciclável no Brasil:

São cerca de 800 mil catadores de material reciclável nas ruas e nos lixões no país;

66,1% dos catadores são homens e 33,1% são mulheres; 

93,3% dos catadores trabalham nas áreas urbanas;

R$ 571,56 á a renda média dos catadores no país;

4,5% residem em domicílios cuja renda per capita fica abaixo de R$ 70;

20,5% é a taxa de analfabetismo entre os catadores;

Mais de 50% dos catadores vivem em domícilios sem esgotamento sanitário;

A região Nordeste tem 116.528 desses trabalhadores;

Em Pernambuco, 20.166 trabalhadores atuam como catadores; 

A renda média do catador pernambucano é de R$ 494,14, inferior à média do Brasil e superior à de R$ 459,34 do Nordeste.

Fonte: Censo 2010/IBGE
Informações do Diário de Pernambuco
Fotos: Carlos Santos/DN/D.A.Press