quarta-feira, 12 de junho de 2013

Antropóloga e escritora americana Nancy Scheper-Hughes volta a Timbaúba para continuar sua pesquisa sobre mortalidade infantil

Depois de vários anos a Doutora Nancy Scheper-Hughes volta para avaliar o que mudou no município. Ela é autora do livro "Morte sem Chorar" onde cita Timbaúba e as causas do grande índice de mortalidade infantil na cidade

Vereadores Ivaneide Ferreira, João Coutinho e Jurandir do Calçamento; 
Nancy e sua filha Jeniffer Scheper-Hughes


A Câmara Municipal de Timbaúba na sua 16ª Sessão Ordinária na segunda (10) teve a honra de receber a Doutora Nancy Scheper-Hughes, antropóloga, escritora e professora da Universidade da Califórnia em Berkeley nos Estados Unidos. Ela estava acompanhada da sua filha também professora, Jeniffer Scheper-Hughes.

As visitas ilustres foram anunciadas e convidadas pelo Presidente da Mesa Diretora, Vereador João Coutinho para sentarem juntos aos vereadores que compõem a Casa Legislativa timbaubense. Mãe e filha ficaram atentas a reunião legislativa até próximo ao final. Elas estavam na capital pernambucana e chegaram ao município timbaubense as 15 horas da segunda (10), as professoras americanas vieram acompanhadas de Recife a Timbaúba pelo professor João Marcelo e pelo cineasta Patrício Dubod. 

Professor e Historiador João Marcelo
Já na terça-feira (11) a doutora Nancy esteve na Secretaria Municipal de Saúde colhendo informações acompanhada dos timbaubenses, o historiador e advogado João Marcelo, e do técnico em cinema Patrício Dubod, que estudou em Berkeley nos Estados Unidos, universidade onde ela é professora. 

Eles visitaram o PSF no alto do Cruzeiro, acompanhou os trabalhos dos agentes de saúde daquele bairro que em sua maioria é formado por pessoas carentes.

A americana almoçou no Sítio Bodes, onde também conversou com agricultores, e conheceu a vida simples levado pelos camponeses daquela localidade.

Patrício Dubod cineasta timbaubense
O motivo da volta da americana é para atualizar dados sobre a mortalidade infantil em nossa cidade, pois em um dos vários livros que ela escreveu foi "Death without Weeping: The Violence of Everyday Life in Brazil" (Morte sem chorar: a violência da vida cotidiana no Brasil), que cita Timbaúba no livro lançado em 1993 nos Estados Unidos. Para poder escrever esse livro Nancy teve que conviver durante 14 meses entre os anos de 1982 e 1989 no Alto do Cruzeiro, em Timbaúba. 

Na época fez um trabalho de campo pesquisando sobre a vida de cem mulheres e entrevistou alguns homens na localidade. A intenção era estudar o sentimento materno e a mortalidade infantil, questões que tinham se interessado desde a primeira vez que esteve no Brasil na década de 60.


Os primeiros capítulos do livro relatam a economia do açúcar, a seca (a dificuldade de beber água de boa qualidade), a fome e a violência. Nos capítulos seguintes destaca a falta de interesse das mães perante a morte dos seus filhos.



Ela destacou no livro que as causas do grande índice de mortalidade infantil na cidade eram fatores sócio-econômicos. Pobreza, descasos das autoridades, condições de moradias precárias e a desigualdade entre as classes. Mas o principal fator era a fome crônica que afetava as crianças nos primeiros anos de vida.

O que mais preocupava Nancy Scheper-Hughes não eram os motivos das mortes das crianças, mas sim a negligência e a falta de providencias por parte dos familiares e autoridades.

Livro causa polêmica nos Estados Unidos


O livro Death without Weeping the violence of everyday life in Brazil, baseado em observações realizadas em Timbaúba, casou muita polemica nos Estados Unidos pelo fato da negligencia por parte das mães e autoridades na época, pois não havia o menor investimento para tentar diminuir as elevadas taxas de mortalidade infantil. O livro ainda não tem tradução em português.


"Mas não eram as mortes o que me surpreendia. O que preocupava não era algum misterioso enigma epidemiológico. Antes, o que me deixava perplexa era a aparente ‘indiferença’ das mulheres do Alto do Cruzeiro em Timbaúba, diante da morte de seus bebês e a tendência a atribuir às próprias criaturas uma ‘aversão’ à vida que fazia com que suas mortes parecessem completamente previsíveis" comentou Nancy Scheper-Hughes.



Pesquisa, fotos e revisão de texto: Renato Melo 
Texto: Reginaldo Silva