Por
João de Andrade Neto
Do
Jornal do Commercio
Na
próxima quarta-feira, tem início mais uma edição da Série A2 do Campeonato
Pernambucano. Ao todo serão 15 clubes buscando duas vagas na elite do futebol
estadual em 2013. Até lá serão quase quatro meses de jogos de nível técnico
duvidoso, campos esburacados e arquibancadas quase vazias. Mas também de muita
força de vontade e o sonho de uma vida melhor. Combustíveis que movem 99,9% dos
jogadores e técnicos da A2 e ajudam a construir a essência da competição.
Anônimos e ex-famosos, cujas histórias estão escondidas em partidas sem
holofotes ou divulgação na mídia.
É
na Série A2, por exemplo, que está depositada a esperança de Thiago Lima, 21
anos, de chegar a um clube grande. Goleiro do Íbis, ele divide seu tempo entre
os treinos no eterno Pior Time do Mundo e a atividade de padeiro na padaria
Getsêmani, de propriedade dos pais, no bairro de Santo Amaro. Por sinal, a dupla
jornada de Thiago, que tem o goleiro Magrão, do Sport, como ídolo, é a realidade
de metade do elenco do Pássaro Preto. Feirantes, professores e até advogados
também integram o time.
No
Íbis não há salários. Os titulares recebem, por partida, R$ 100, em caso de
vitória. R$ 75 por empate e R$ 50 na derrota. Entre os reservas os valores são
de R$ 75, R$ 50 e R$ 25. Os demais só recebem ajuda de custo para chegar aos
treinos. "Essa história de pior time do mundo a gente deixa para fora, para a
mídia. Aqui dentro nós somos os melhores do mundo. Levo isso muito a sério.
Quero colocar a mão na massa apenas no futebol", resumiu Thiago, que pela
primeira vez jogará uma competição oficial.
A
Série A2 também pode ser a chance de recomeço para quem busca uma segunda chance
ou mesmo para aqueles que já haviam desistido do sonho de ganhar a vida com o
futebol.
Aos
27 anos, o lateral-direito Henrique, também do Íbis, havia tentado a sorte no
extinto Intercontinental. Mas, com poucas oportunidades, abriu mão do sonho de
ser jogador e foi ganhar a vida como vendedor. Quase dez anos depois, após
perder o emprego, resolveu voltar a apostar na loteria da bola. "Sei que é
difícil. Tinha perdido as esperanças, mas graças a Deus consegui essa
oportunidade."
Para
o lateral-esquerdo Xavier, do Olinda, o recomeço é outro. Após ser um dos
destaques do Santa Cruz no acesso à Série A do Brasileiro em 2005 e defender
clubes como Palmeiras e Botafogo, o jogador acabou tendo a carreira prejudicada
por problemas extracampo e quer dar a volta por cima. O primeiro passo é na
Série A2.
"Me
perdi com noitadas. Se estou hoje jogando a segunda divisão do Pernambucano é
por culpa minha. Mas estou pronto para recomeçar", finalizou o jogador, hoje com
32 anos. No Olinda, a média salarial é de R$ 1.200.