Discreta, ela fala pouco, mas ouve e vê muito. Presente nos bastidores e ao lado do marido em eventos, Renata Campos, 45 anos, pode trocar o papel de primeira-dama de Pernambuco pelo de candidata a deputada federal.
Com a bênção do marido e governador Eduardo Campos (PSB), ela é opção para dar sequência à tradição da família de ter representante no Congresso há quase 30 anos.
O ex-governador Miguel Arraes (1916-2005), avô de Eduardo Campos, foi eleito deputado federal três vezes, a exemplo do neto.
A mãe de Eduardo Campos, Ana Arraes (PSB), foi eleita duas vezes para a Câmara. Em 2010, foi a deputada federal mais bem votada em Pernambuco, com 387.581 votos.
Mas não há ninguém da família na Câmara desde 2011, quando o governador garantiu à mãe uma vaga como ministra do Tribunal de Contas da União (TCU). O espólio eleitoral de Ana, portanto, ainda não tem herdeiro.
A eleição de Renata manteria os votos "em casa" e ainda garantiria o espaço político do marido, caso ele perca uma provável disputa pela Presidência da República.
"Não seria estranho o governador apresentar a mulher como candidata. A relação familiar não foi impedimento para uma experiência ocorrida recentemente [as eleições de Ana Arraes]", disse Túlio Velho Barreto, cientista político da Fundação Joaquim Nabuco.
Barreto, contudo, diz acreditar que o governador ainda deverá calcular o impacto que a indicação da mulher e prováveis acusações de "nepotismo" e "coronelismo" terão sobre o seu voo nacional.
FAMÍLIA
Renata não costuma dar entrevistas --não aceitou, por exemplo, o pedido da Folha para falar a esta reportagem. Também não gosta de ver os filhos, Maria Eduarda (21), João (19), Pedro (17) e José (8), expostos nos jornais.
Uma pessoa próxima à família afirmou que a primeira-dama teme prejudicar o marido e, por isso, é arredia com jornalistas.
O governador se refere a ela como "dona Renata", expressão que caiu no gosto da presidente Dilma Rousseff, que também a trata dessa forma quando vai ao Estado.
A exemplo do marido, é economista. Funcionária de carreira do Tribunal de Contas do Estado, licenciou-se em 2007, quando o marido assumiu o governo de Pernambuco e ela foi cedida à administração estadual.
Na gestão de Campos ela comanda o "Mãe Coruja", programa de assistência a grávidas pobres. Seu salário de R$ 13,7 mil (já com os descontos) continua sendo pago pelo tribunal, ela não recebe pelo governo.
Renata procura projetar a imagem de pessoa simples, que não abre mão do papel de mãe e dona de casa. Não tinge os cabelos e evita roupas de grife. Usa adornos regionais e comanda uma grande feira anual de artesanato.
Mas quem convive com Renata a descreve também como exigente e detalhista, alguém que fala com desenvoltura sobre qualquer assunto e tem opiniões levadas em conta por secretários e assessores do marido.