A vitória acachapante do PSB em Pernambuco, onde fez a maioria das prefeituras do Estado, e o fato de ter elegido o prefeito do Recife, juntamente com a maioria da Câmara de Vereadores, levou a um encolhimento significativo da oposição. E esta nova situação tem levado os partidos que se encontram do lado oposto ao Governo a questionarem a “democracia do partido único”. Se, por um lado, o fato de quase 15 partidos estarem coligados ao PSB facilita a concretização de objetivos por parte do governo, por outro, uma oposição encolhida aumenta o risco de não haver o mínimo de fiscalização da gestão comandada pela Frente Popular.
Os números do último pleito municipal comprovam que a oposição está sendo cada vez mais nanina. No Legislativo da capital, 24 dos 39 vereadores dentre eleitos e reeleitos apoiam o prefeito eleito, Geraldo Júlio (PSB). Além disso, em nível estadual, cerca de 140 gestores dos 184 municípios do Estado estão ao lado do PSB, sejam do próprio partido ou integrantes da base de apoio socialista.
É sabido que o PSDB e o DEM são as principais legendas de oposição à Frente Popular. Mas, nos últimos tempos, os tucanos se aproximaram de Eduardo Campos, o que amenizou a atuação firme de uma sigla oposicionista. Basta lembrar que nesta eleição, 14 dos 17 prefeitos tucanos espalhados pelo Estado apoiaram o governador. Agora, o partido pode, inclusive, tentar formar aliança em plano nacional caso o socialista venha a se candidatar à Presidência da República em 2014.
Já os democratas integram uma legenda quase que esvaziada. O DEM conseguiu eleger apenas um prefeito nestas eleições. Trata-se de Felipe Porto, eleito na cidade de Canhotinho, Agreste do Estado. Na Câmara Municipal do Recife, a sigla conta com apenas uma representante, Priscila Krause.
No que toca ao PSDB, o cientista político da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Túlio Velho Barreto, disse, em entrevista ao Jornal do Commercio, que essa aproximação deverá amenizar a conduta de oposição por parte dos tucanos. “Embora Daniel Coelho –candidato derrotado pelo PSDB - tenha aparentemente saído da disputa com um campo de oposição bem demarcado contra o PSB, as alianças firmadas entre os dois partidos em outros municípios e a amizade entre Eduardo, Sérgio Guerra (Presidente nacional do PSDB) e Aécio Neves (governador de Minas Gerais) impedem seu crescimento na oposição”, afirma.
Quanto ao DEM, para o estudioso, o partido precisa se reconstruir. “Tanto no Recife como no Estado e nacionalmente, o DEM tem encolhido a cada eleição. Agora, mais do que nunca, a hipótese de fusão com o PSDB não pode ser descartada, porque o partido perdeu muitos quadros e sua identidade. No Recife, com a dura derrota de Mendonça, o DEM perdeu o terreno que lhe restava”, avalia.
Com o lançamento da candidatura de Geraldo Júlio e a consequente vitória do socialista, ficou incerto o papel que o PT vai adotar ao decorrer do tempo: oposição ou aliado. Mas, primeiramente, a legenda precisa se reestabilizar. “O partido vai enfrentar uma dura crise interna. No Recife, com a derrota de Humberto e João Paulo, essa crise será bem maior que aquela que marcou o período da pré-campanha”, analisa Barreto.
Tido como um dos principais nomes de oposição ao PSB, o deputado estadual Daniel Coelho afirma que as urnas deram uma mensagem muito clara nestas eleições, já que o PSDB teve a segunda maior votação no Recife nas eleições majoritárias. “Mais importante do que ter números é ter uma oposição que atue bem. Temos essa grande missão de fiscalizar as ações do governo e trabalhar de forma propositiva”, disse Daniel Coelho.
Até o momento, a Câmara Municipal conta com dois fortes nomes de oposição: além de Priscila, a tucana Aline Mariano. Mas, segundo Coelho, o ingresso na Casa de Raul Jungmann (PPS) e André Régis (PSDB) dará um “fôlego” a mais para os oposicionistas.
“Hoje, a oposição é mais forte na sociedade do que na política partidária. E não tenha dúvida de que a entrada de André e de Raul será muito importante para o nosso papel de oposição na cidade”, acrescentou o parlamentar. O tucano afirmou, ainda, ser difícil prever os reflexos da proximidade entre Eduardo Campos e o PSDB. “Tanto Dilma como o PSDB querem o apoio de Eduardo. Vamos respeitar o que pode ocorrer em nível nacional. Mas não temos nada de concreto para avaliar os impactos disso”, finalizou.
Pernambuco 247