Moradores estão chegando a pedir R$ 1 milhão por uma casa considerada simples
Que tal pegar um apartamento de R$ 1,2 milhão, quatro suítes
e vista para o mar, na Avenida Boa Viagem, Recife, juntar mais R$ 300 mil e
trocar por uma casa de 350 metros quadrados no centro de Goiana, Mata Norte? Na
terra da nova indústria de Pernambuco, o otimismo com as fábricas de carros e
vidros distorceu o mercado imobiliário. As casinhas antigas, em grande parte
tombadas como patrimônio histórico, muitas vezes sequer podem ser alteradas.
Outras nem têm registro no cartório. Ainda assim, é comum encontrar ofertas
acima de R$ 1 milhão na cidade, mesmo que isso atrapalhe a venda efetiva. As
cifras altas também estão nos aluguéis, que chegam fácil a R$ 2 mil.
“O preço não está fora da realidade. As pessoas nos procuram pela
localização boa”, afirma o professor Albérico Alves, 57 anos. Ele e os quatro
irmãos tentam vender um imóvel no centro de Goiana que parece duas propriedades
diferentes, um residencial e outro comercial, mas é uma só – a de 350 metros
quadrados citada acima e que aparece na foto maior desta página. Albérico diz
que falar em cifras altas não é mais raridade por lá. “Pelo contrário, há muito
imóvel à venda por mais de R$ 1 milhão”, explica o professor.
O corretor Marcelo Neves diz outra coisa. “Na realidade, há muita
especulação. Um cliente queria R$ 3 milhões pela casa dele. Depois pediu que eu
avaliasse. Falei que valia R$ 300 mil. Aí ele insistiu que queria R$ 3
milhões”, diz Marcelo. “Isso atrapalha muito, até porque são imóveis com
restrições. A maioria é tombada ou sem registro. Termina mais barato morar em
Igarassu ou João Pessoa”, conta.
Para o mercado, o tombamento é problema. Para urbanistas, é
necessidade, um controle para evitar a perda da beleza e da memória da cidade.
Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o
centro de Goiana tem 2.500 imóveis protegidos. Porém o chamado “polígono de
tombamento histórico” não evita demolições sem autorização.
Jornal do Commercio