terça-feira, 5 de novembro de 2013

Orquestra Sinfônica do Recife prepara concurso para renovar quadro de músicos

Seleção prevista para início de 2014 pretende admitir 35 novos músicos

Estudantes cedidos à OSR (acima) compõem o conjunto, hoje com quadro deficitário

A Prefeitura do Recife deve realizar concurso público e preencher 35 cargos vagos na Orquestra Sinfônica da cidade. A seleção deve ocorrer no início do próximo ano, provavelmente em fevereiro, cogita o maestro Marlos Nobre, atual regente titular e diretor artístico do conjunto.

A admissão pretende corrigir um déficit de anos na formação do grupo, hoje com substitutos improvisados e falta de melhores condições de trabalho. “A questão do concurso é prioritária. Conversei com o prefeito Geraldo Julio longamente sobre o assunto e tanto ele quanto a secretária (de Cultura) Leda Alves estão empenhados nisso”, garante.


O maestro avalia a abertura do edital como uma necessidade não só da orquestra, mas da própria cena musical do Recife. “Muita gente se forma aqui, mas acaba indo embora para outras cidades e estados por conta dos baixos salários e da falta de condições básicas”, diagnostica. Marlos diz ter notícias de instrumentistas locais trabalhando fora que não escondem o desejo de voltar a Pernambuco para fazer o concurso e atuar no estado. “Aqui eles têm família, amigos. Muitos vão para fora e sentem falta desse acolhimento”.

A orquestra funciona, hoje, com 75 profissionais fixos - e, desde setembro, conta com o trabalho adicional de 15 músicos emprestados do Centro de Criatividade Musical de Pernambuco e do Conservatório Pernambucano de Música (eles têm idade entre 16 e 25 anos). De acordo com o regente, a seção das cordas é a mais deficiente, principalmente os primeiros violinos. A percussão, além da falta de músicos, sofre com a carência de instrumentos. “Já estão sendo feitas licitações para comprar tímpanos, vibrafone, xilofone, campanas”, adianta Marlos.

Integrante da Orquestra Sinfônica há 37 anos, Elyr Alves sente-se bastante à vontade com a presença dos integrantes com menos estradas percorridas. “A Orquestra, como patrimônio cultural, precisa ser preservada. E uma forma de fazer isso é abrir as portas para os jovens. É um incentivo para o trabalho de escolas de música e projetos sociais”, aponta o violista e violinista de 60 anos.

O último concurso foi em 2002. A maioria das vagas, num total de 41, não foi preenchida. A baixa remuneração teria sido um dos principais motivos para as desistências. O salário base era de R$ 453,76. Atualmente, a média da remuneração chega a R$ 1,2 mil.

Contraponto
Enquanto o conjunto gerido pela prefeitura ensaia aquisição de músicos e melhoria salarial, a Orquestra Sinfônica Jovem do Conservatório Pernambucano de Música - de onde vem parte dos músicos emprestados ao grupo municipal - está com as atividades suspensas. A alegação é de problemas burocráticos no repasse de verba. No Facebook, o maestro José Roberto Accioly escreveu: “Estou com esperança de que tudo se encaminhe da melhor forma possível. Acredito na viabilidade da orquestra e no envolvimento e na sensibilidade de nossos gestores”.

O diretor do CPM, Sidor Hulak, em nota enviada ao Viver, afirmou que “as atividades da orquestra não estão paralisadas por falta de verba”. Segundo ele, o recurso para a continuidade dos trabalhos está garantido e o documento que trata do repasse da verba “está sendo analisado pela Secretaria de Educação do Estado”.

Sidor concluiu que, “para celebração do convênio, é preciso seguir normas instituídas pelo decreto 39.376 de 2013. O decreto estabelece critérios e condições para a celebração de convênios com transferência de recursos do Tesouro Estadual para órgãos, entidades públicas ou entidades privadas sem fins econômicos”.

Karolayne Cavalcante Santos. Foto: Andréa Rêgo Barros/PCR
Pra gringo ver
Os 15 músicos cedidos à Sinfônica do Recife participam, na próxima semana, em Caracas, do Projeto Juvenil Multinacional Brasil e Venezuela. “Será uma grande experiência para eles”, diz Marlos. O convite partiu da direção do El Sistema - modelo didático-musical criado e mantido pelo poder público venezuelano, um dos mais eficientes e elogiados do mundo. Eles viajam no domingo a Caracas, onde ensaiam e atuam em concertos nos dias 15 e 17. Vão tocar obras de compositores venezuelanos e brasileiros, além de Tchaikovsky. No dia 16, o regente da Sinfônica estará presente ao concerto da Orquestra Símon Bolívar. Karolayne Cavalcante Santos (foto), de 16 anos, está entusiasmada. “A experiência é gratificante porque vamos tocar fora e trocar experiências. E teremos a oportunidade de ver Gustavo Dudamel, um dos grandes regentes do momento”, ressalta a violinista. 

Informações do Diário de Pernambuco
Foto: Andréa Rêgo Barros/PCR