Seleção prevista para início de 2014 pretende admitir 35 novos músicos
Estudantes cedidos à OSR (acima) compõem o conjunto, hoje com quadro deficitário |
A Prefeitura do Recife deve realizar concurso público e preencher 35
cargos vagos na Orquestra Sinfônica da cidade. A seleção deve ocorrer no
início do próximo ano, provavelmente em fevereiro, cogita o maestro
Marlos Nobre, atual regente titular e diretor artístico do conjunto.
A admissão pretende corrigir um déficit de anos na formação do grupo, hoje com substitutos improvisados e falta de melhores condições de trabalho. “A questão do concurso é prioritária. Conversei com o prefeito Geraldo Julio longamente sobre o assunto e tanto ele quanto a secretária (de Cultura) Leda Alves estão empenhados nisso”, garante.
O maestro
avalia a abertura do edital como uma necessidade não só da orquestra,
mas da própria cena musical do Recife. “Muita gente se forma aqui, mas
acaba indo embora para outras cidades e estados por conta dos baixos
salários e da falta de condições básicas”, diagnostica. Marlos diz ter
notícias de instrumentistas locais trabalhando fora que não escondem o
desejo de voltar a Pernambuco para fazer o concurso e atuar no estado.
“Aqui eles têm família, amigos. Muitos vão para fora e sentem falta
desse acolhimento”.
A orquestra funciona, hoje, com 75
profissionais fixos - e, desde setembro, conta com o trabalho adicional
de 15 músicos emprestados do Centro de Criatividade Musical de
Pernambuco e do Conservatório Pernambucano de Música (eles têm idade
entre 16 e 25 anos). De acordo com o regente, a seção das cordas é a
mais deficiente, principalmente os primeiros violinos. A percussão, além
da falta de músicos, sofre com a carência de instrumentos. “Já estão
sendo feitas licitações para comprar tímpanos, vibrafone, xilofone,
campanas”, adianta Marlos.
Integrante da Orquestra Sinfônica há
37 anos, Elyr Alves sente-se bastante à vontade com a presença dos
integrantes com menos estradas percorridas. “A Orquestra, como
patrimônio cultural, precisa ser preservada. E uma forma de fazer isso é
abrir as portas para os jovens. É um incentivo para o trabalho de
escolas de música e projetos sociais”, aponta o violista e violinista de
60 anos.
O último concurso foi em 2002. A maioria das vagas, num
total de 41, não foi preenchida. A baixa remuneração teria sido um dos
principais motivos para as desistências. O salário base era de R$
453,76. Atualmente, a média da remuneração chega a R$ 1,2 mil.
Contraponto
Enquanto
o conjunto gerido pela prefeitura ensaia aquisição de músicos e
melhoria salarial, a Orquestra Sinfônica Jovem do Conservatório
Pernambucano de Música - de onde vem parte dos músicos emprestados ao
grupo municipal - está com as atividades suspensas. A alegação é de
problemas burocráticos no repasse de verba. No Facebook, o maestro José
Roberto Accioly escreveu: “Estou com esperança de que tudo se encaminhe
da melhor forma possível. Acredito na viabilidade da orquestra e no
envolvimento e na sensibilidade de nossos gestores”.
O diretor do CPM, Sidor Hulak, em nota enviada ao Viver, afirmou
que “as atividades da orquestra não estão paralisadas por falta de
verba”. Segundo ele, o recurso para a continuidade dos trabalhos está
garantido e o documento que trata do repasse da verba “está sendo
analisado pela Secretaria de Educação do Estado”.
Sidor concluiu
que, “para celebração do convênio, é preciso seguir normas instituídas
pelo decreto 39.376 de 2013. O decreto estabelece critérios e condições
para a celebração de convênios com transferência de recursos do Tesouro
Estadual para órgãos, entidades públicas ou entidades privadas sem fins
econômicos”.
Pra gringo ver
Os 15 músicos
cedidos à Sinfônica do Recife participam, na próxima semana, em Caracas,
do Projeto Juvenil Multinacional Brasil e Venezuela. “Será uma grande
experiência para eles”, diz Marlos. O convite partiu da direção do El
Sistema - modelo didático-musical criado e mantido pelo poder público
venezuelano, um dos mais eficientes e elogiados do mundo. Eles viajam no
domingo a Caracas, onde ensaiam e atuam em concertos nos dias 15 e 17.
Vão tocar obras de compositores venezuelanos e brasileiros, além de
Tchaikovsky. No dia 16, o regente da Sinfônica estará presente ao
concerto da Orquestra Símon Bolívar. Karolayne Cavalcante Santos (foto),
de 16 anos, está entusiasmada. “A experiência é gratificante porque
vamos tocar fora e trocar experiências. E teremos a oportunidade de ver
Gustavo Dudamel, um dos grandes regentes do momento”, ressalta a
violinista.
Informações do Diário de Pernambuco
Foto: Andréa Rêgo Barros/PCR