segunda-feira, 11 de março de 2013

Indústrias de calçados vivem a míngua em Timbaúba e no Estado de Pernambuco

Em Pernambuco, que já foi polo do setor, hoje há apenas pequenas e médias empresas

Neste prédio abandonado funcionava uma das maiores indústrias de calçados de  Pernambuco

No ano de 1970, a economia de Pernambuco contava com um forte setor produtivo, o de calçados. O Estado era concorrente forte do Rio Grande do Sul, região tradicional na produção de artigos de couros, e fez escola para cidades como Franca, no interior de São Paulo. As fábricas se concentravam na Mata Norte, sendo Timbaúba a âncora da cadeia produtiva. Contudo, uma sucessão de fatores políticos e econômicos levaram ao fechamento dos empreendimentos de sapatos, sandálias e acessórios. Por outro lado, com o desenvolvimento de outros polos, Pernambuco trocou a segunda posição na fabricação pelo primeiro lugar no consumo desses artigos no Nordeste.


Dados do Sindicato das Indústrias de Calçados, de Solado Palmilhado, de Luvas, Bolsas e Peles de Resguardo e Material de Segurança e Proteção ao Trabalho do Estado de Pernambuco (Sindicalçados-PE), até dezembro do ano passado, foram registradas 104 empresas do segmento, sendo a maioria de pequeno e médio portes. Uma delas é a Central de Costura, localizada em Timbaúba. A fábrica conta com um quadro de 80 pessoas que produzem um volume médio de 30 mil pares por mês. “Somos, hoje, um serviço terceirizado para grandes marcas como a Pênalti. Foi uma maneira que encontramos para unir a tecnologia dessas grandes empresas e sobreviver na dinâmica desse mercado”, explicou o empresário Joel Monteiro que também administra a Calf Calçados, em Ferreiros.


Além de ir perdendo na modernização da produção dos sapatos, sandálias e outros acessórios ligados ao setor de calçados, nos anos 1990, Pernambuco deixou escapar o investimento de grandes indústrias do setor para os estados do Ceará - hoje segundo maior produtor do setor no Brasil -, Bahia e Paraíba. Conforme o presidente do Sindicalçados, Luiz Grimaldi, a guerra fiscal e o desinteresse do Governo da época pelo setor levaram o polo ao colapso. “As pequenas e médias empresas pedem socorro, nossa produção hoje está muito aquém do que deveria e os últimos dois anos foram ainda mais difíceis. Resultado de um processo que vem vitimizando Pernambuco ao longo das décadas”, explicou.


CURTUME

As sucessivas crises atingiram outra ponta da cadeia produtiva. Além da geração dos calçados, a produção do couro também foi afetada pela falta de investimentos. Pernambuco tem apenas seis empresas do setor de curtume, segundo o Sindicato das Indústrias do Curtimento de Couros e Peles e de Malas e Artigos de Viagem do Estado (Sindicouro). A concorrência de outros países, principalmente os asiáticos, também contribuíram para esse enfraquecimento. Se há 30 anos Brasil e China eram equivalentes na produção e exportação do produto, no ano passado os chineses exportaram US$ 44 bilhões, enquanto as vendas brasileiras não somaram sequer US$ 2 bilhões.


“A produção de calçados caiu e nós regredimos juntos. E o principal fator, nesse caso da China, é o alto valor da nossa mão de obra, e não falo de salário, mas de todos os custos trabalhistas, como o sistema previdenciário, que onera demais a indústria deste País”, lamentou o presidente do Sindicouro-PE, Rafael Araújo.



Informações da Folha PE